20.12.05

Abraço inesquecível

O Orkut é uma completa perda de tempo, mas tem coisas que conseguimos através dele que não têm preço. Como localizar esse menininho louro da foto. Que hoje é um homão quase sem cabelo, casadíssimo e muito simpático, que eu achei do nada, numa comunidade sobre meu antigo colégio, o Lubienska.

Miltinho, Mônica e Guilherme eram nossos vizinhos na casa das Graças, onde vivi dos meus sete aos dez anos. Dá pra escrever um mês inteiro, só contando nossas peripécias. Mas hoje eu quero falar só de Miltinho, que eu acho que foi de certa forma meu primeiro namorado. Calma!, nunca demos beijo na boca nem pensamos em nada do gênero. Sei lá também se é o caso de usar esse rótulo pra descrever o que a gente fazia. Eu era uma menina tão menina, tão desinteressada de certas coisas... Enfim, vou explicar!
É que olhando pra essa carinha da foto, eu lembrei de uma das nossas brincadeiras preferidas, que se chamava 'pai e mãe'. Eu era a mãe, ele era o pai, meu irmão Gabriel e Mônica, a irmã dele, eram os filhos. Não sei por que motivo Guilherme, o irmão Lithg mais velho, não participava da "família", já que ele sempre integrava as brincadeiras; acho que ela não acontecia todo dia, nem todo tempo, e talvez nesse período ele tenha ficado de recuperação no colégio, por exemplo. Ou estivesse com papeira (caxumba) ou alguma outra mazela normal de criança.
'Pai e mãe' era assim: a gente pegava um lençol grandão, forrava no oitão da minha casa, e deitava todo mundo juntinho. Eu tinha uns oito anos e não fazia a menor idéia de como a abelhinha polinizava as flores e outras histórias que depois li no livro De onde vêm os bebês. 'Pai e mãe' não era brincadeira de médico: a gente não estava interessado nas diferenças e sensações corpóreas. O bom era só deitar a cabeça no braço de Miltinho e ficar quietinha olhando um sabiá grandão que toda tarde vinha cantar, no pé de manga rosa.
Era uma sensação muito boa, de estar protegida e acarinhada. Tão doce, que eu guardo a lembrança até hoje. Eu, que não tive contato semelhante com meu próprio pai, devo ter valorizado muito mais esses momentos que Miltinho - que era mais novo que eu alguns meses, meio estabanado e maluco, escrevedor de poesia e inventor de brincadeiras e travessuras terríveis.
Mesmo tendo passado mais de 20 anos sem ter o menor contato com eles, tenho pelos três irmãos Lithg um carinho enorme. Mas o abraço de Miltinho o faz especial, pro resto da vida.
(Postado originalmente no Sítio de Maricota, em 27 de outubro de 2005)

Um comentário:

Pedro Cezar disse...

Nana, não se assuste! Parece que tô deixando de ser o primo fã e me transformando no primo psicopata que, daqui a pouco, vai tatuar frase sua no antebraço direito e te procurar atrás das árvores da Tamarineira. É que tô muito amarradão na tua prosa e quando te leio sinto muita, muita saudade das coisas que não fizemos... e mais ainda das que faremos algum dia. Com certeza. bj