1.9.06

Em memória de um elefante

“Fabrico um elefante de meus poucos recursos. Um tanto de madeira tirado a velhos móveis talvez lhe dê apoio. E o encho de algodão, de paina, de doçura” – Carlos Drummond de Andrade Eu já vi tubarões amestrados, formigas gigantes, caranguejos dançarinos, jacarés no guarda-roupa, lobos que se disfarçavam de chinelo. Eu já criei sapos numa gamela de barro, construí uma cidade no quintal, cavei um buraco de três metros de fundura e lá enterrei todos os meus míseros brincos e anéis. Minha infância foi uma festa preciosa de sofrimento e magia, durante a qual fui podada em muitas coisas, mas nunca na imaginação. A presença do meu pai quando criança também era uma coisa complicada, Sama, e minha mãe achava que Papai Noel era uma invenção pequeno burguesa, mas ao ler a tua história senti pena dos adultos que matam a infância em si e nos outros, e que não sabem rir, e que não sabem enxergar com os olhos de ver. Será que uma dose maciça de Chagall, Amélie Poulain e García Marquez ajudam? Ou será que eles estão destinados à pobreza de ver apenas com os olhos da cara? Que bom que você ainda lembra do elefante, e que ele era azul, e se fez memória e história. Que bom que mesmo te faltando o pedaço tirado pelo beliscão, você é assim tão grande. Um beijo.
Postado originalmente no Sítio de Maricota, em 11 de janeiro de 2006.

Um comentário:

Pedro Cezar disse...

Bonito pacas!