Um dia, minha vizinha e amiga de infância sonhou com um número de telefone desconhecido: o prefixo era 361, o do nosso bairro. Sonhou que era o número de um rapaz lindo e charmoso. Mas logo ela, a criatura mais atirada que eu já conheci, não teve coragem de telefonar pra checar. Do alto dos meus 15 anos, tinindo de atrevimento e falta de juízo, liguei eu.
“Boa tarde, moça”, disse à mulher que atendeu. “É que o rapaz que mora aí me deu esse número, mas eu esqueci o nome dele”. “Ah, Marconi”, falou ela, sem a menor desconfiança. “Um momentinho que já vou chamar”. E foi. E ele atendeu. E eu, no maior desplante, depois de dez minutos de conversa – “oi, Marconi, tudo bem?” – contei a ele a história maluca inteira. Marconi tinha 17 anos e não sei se acreditou, mas claro que ficou curioso. Depois de mais uns dois telefonemas (minha amiga sempre sem querer falar com ele, morta de vergonha), marcamos de nos encontrarmos.Não lembro onde combinamos – se na Jan-Ju, a sorveteria do bairro onde tudo acontecia; se na praia; se no shopping; se no próprio prédio. Eu fui, como intérprete do casal. Minha amiga cheia de dedos, roxa, como se fosse morrer.
Marconi tinha espinhas, era gordinho, cara de bom rapaz, e mais eu não lembro agora. Não parecia com o rapaz do sonho e ela se desinteressou dele - que não chegou a se interessar por ela, mas botou logo o olho em mim.Este poderia ser o início de uma linda história de amor, mas Marconi, tadinho, não sabia por onde começar. Passou dias e dias me ensinando a jogar vinte-e-um, relancinho, todos os jogos do baralho. Nunca arriscou nem a pegar na minha mão. E eu, malvada que sou, aficcionada que sou por homens severgonhos (dá uma tese, longas histórias), aos poucos comecei a fugir do rapaz, de um jeito tão natural que até hoje não sei dizer como Marconi sumiu.Fico aqui pensando, se ao invés de telefonar, a gente não devia ter jogado no bicho...
“Boa tarde, moça”, disse à mulher que atendeu. “É que o rapaz que mora aí me deu esse número, mas eu esqueci o nome dele”. “Ah, Marconi”, falou ela, sem a menor desconfiança. “Um momentinho que já vou chamar”. E foi. E ele atendeu. E eu, no maior desplante, depois de dez minutos de conversa – “oi, Marconi, tudo bem?” – contei a ele a história maluca inteira. Marconi tinha 17 anos e não sei se acreditou, mas claro que ficou curioso. Depois de mais uns dois telefonemas (minha amiga sempre sem querer falar com ele, morta de vergonha), marcamos de nos encontrarmos.Não lembro onde combinamos – se na Jan-Ju, a sorveteria do bairro onde tudo acontecia; se na praia; se no shopping; se no próprio prédio. Eu fui, como intérprete do casal. Minha amiga cheia de dedos, roxa, como se fosse morrer.
Marconi tinha espinhas, era gordinho, cara de bom rapaz, e mais eu não lembro agora. Não parecia com o rapaz do sonho e ela se desinteressou dele - que não chegou a se interessar por ela, mas botou logo o olho em mim.Este poderia ser o início de uma linda história de amor, mas Marconi, tadinho, não sabia por onde começar. Passou dias e dias me ensinando a jogar vinte-e-um, relancinho, todos os jogos do baralho. Nunca arriscou nem a pegar na minha mão. E eu, malvada que sou, aficcionada que sou por homens severgonhos (dá uma tese, longas histórias), aos poucos comecei a fugir do rapaz, de um jeito tão natural que até hoje não sei dizer como Marconi sumiu.Fico aqui pensando, se ao invés de telefonar, a gente não devia ter jogado no bicho...
Publicado originalmente no Sítio de Maricota, em 27 de maio de 2006.
6 comentários:
vc escreve muito bem. A forma de contar é muito interessante. parabens. vamos fazer um trato? eu fico sempre te visitando e vc a mim, certo? bj
Trato feito. Beijão!
Tentei encontrar o endereço do seu blog, mas não achei. Manda pr'eu ver. Beijo!!!
kkkkkk.....gordinho bonzinho vc dispensou?? tadim.,....rs..
Obrigada pela visita, bj,
Quem te disse que eu presto?
;.)
Beijo!
Nana, aos poucos vou conhecendo esse bau virtual. "O passado é uma invenção do presente".
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