Minha tia Miriam odeia esta época, diz que “forró nunca prestou pra nada” e fica “à beira de uma crise de ‘neuvos’ de só ouvir essa bosta de música de sanfona xoteira, de ver gente com os dentes pretinhos fingindo banguelice, de ver chitão e chapéu de palha”. “Eu quero rock!”, me berrou ontem ao telefone.
Mas eu acho o São João um tempo mágico, que só quem é nordestino sabe o que significa.
Começa envolvendo os sentidos: cheiro de milho assado, pamonha e pé-de-moleque, bandeirinhas sendo penduradas aqui e acolá, música tocando em todo canto e eu com vontade de dançar em pleno supermercado.
Desde pequenininha, quando meu irmão de três anos enfiou a faca de serrar pão na minha canela porque não deixaram ele participar da debulha do milho da canjica, a idéia de que é uma festa coletiva se enraizou no meu coração.
Vejo símbolos. É a festa da colheita, da abundância, da fartura, que existe em todas as culturas desde tempos imemoriais. Junta a mãe Deméter com o pai Xangô, kawó kabiyèsílé!, o poder transformador do fogo, o calor, a regeneração, a fecundidade, a vida.
As comidas elaboradas são verdadeiras oferendas, se não aos deuses, mas à família a quem amamos.
As crianças enlouquecem com os fogos de artifício, e embora tenha medo e conheça os dados sobre os altos índices de acidentes, devo me confessar uma fascinada pela pirotecnia.
O friozinho convida a ficar junto, a dançar agarradinho esse forró nos iguala, nos funde. Já tive namoro começado por culpa desse encontro, da simbiose que a dança estabelece, e por essas e outras minha amiga Eva diz que é como transar em pé e recusa convites para forrozar. E quando rola uma quadrilha improvisada, volto a ser criança.
E a alegria é tanto maior quando experimento o indiferenciado, quando pego na mão de um desconhecido numa dança de roda, e me sinto fazendo parte de um todo muito maior do que eu possa imaginar.
Publicado originalmente no Sítio de Maricota, em 26 de junho de 2006.
Mas eu acho o São João um tempo mágico, que só quem é nordestino sabe o que significa.
Começa envolvendo os sentidos: cheiro de milho assado, pamonha e pé-de-moleque, bandeirinhas sendo penduradas aqui e acolá, música tocando em todo canto e eu com vontade de dançar em pleno supermercado.
Desde pequenininha, quando meu irmão de três anos enfiou a faca de serrar pão na minha canela porque não deixaram ele participar da debulha do milho da canjica, a idéia de que é uma festa coletiva se enraizou no meu coração.
Vejo símbolos. É a festa da colheita, da abundância, da fartura, que existe em todas as culturas desde tempos imemoriais. Junta a mãe Deméter com o pai Xangô, kawó kabiyèsílé!, o poder transformador do fogo, o calor, a regeneração, a fecundidade, a vida.
As comidas elaboradas são verdadeiras oferendas, se não aos deuses, mas à família a quem amamos.
As crianças enlouquecem com os fogos de artifício, e embora tenha medo e conheça os dados sobre os altos índices de acidentes, devo me confessar uma fascinada pela pirotecnia.
O friozinho convida a ficar junto, a dançar agarradinho esse forró nos iguala, nos funde. Já tive namoro começado por culpa desse encontro, da simbiose que a dança estabelece, e por essas e outras minha amiga Eva diz que é como transar em pé e recusa convites para forrozar. E quando rola uma quadrilha improvisada, volto a ser criança.
E a alegria é tanto maior quando experimento o indiferenciado, quando pego na mão de um desconhecido numa dança de roda, e me sinto fazendo parte de um todo muito maior do que eu possa imaginar.
Publicado originalmente no Sítio de Maricota, em 26 de junho de 2006.
Um comentário:
Nana. Tô adorando ler seus textos em cronologia inversa. Canário!! como gosto de sua prosa. Até brincaria de Bandeira e diria: "és libérrima e exata".
bj, o primo fã
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