Às vezes daria qualquer coisa pra ter 1,60m, 40kg, calçar e vestir 36, e ser uma mocinha delicada em vez dessa coisa estrompa que vos fala, e que tem por principal característica o fato de ser grande e mesmo assim não caber em si. Eu ia ser loura, de olhos azuis, do tipo ninfa-transparente-a-ponto-de-quebrar, e me chamar Larissa. Larissa é meu alter-ego, meu desejo secreto de ser frágil e feminina, no que o feminino tem de mais estereotipado.
Eu sei, existem diversos tipos de beleza e de mulheres no mundo. Mas às vezes a gente se chateia de ser superlativa: eu sou grandONA, bonitONA, tenho peitÃO, pezÃO, mãozONA, cada lapa de osso que vou te contar, e nem que eu emagreça tudo que tenho que emagrecer no dia que Deus quiser, não vou jamais ser pequenina. Esbarro nas coisas, derrubo tudo, porque confesso que não sei calcular bem o espaço que ocupo no mundo. Ô, mulher desajeitada! Quando era pequena queria fazer balé, mas hoje acho que seria uma avestruz no meio dos pintinhos...
Ninguém me dá colo; todos me acham ‘forte’. E a gente vai tentando ser ‘forte’ e dar colo aos outros, porque é o jeito e é o que esperam de nós. Uma vez, eu tive um namorado muito maior do que eu, e que me fazia me sentir menina junto dele. Numa das primeiras vezes que me viu, pra medir força, me levantou no ar por quase um minuto: foi a maneira que achou de me desafiar e eu tive muita raiva, mas por outro lado, gostei de me sentir indefesa, uma vez na vida...
Tá, ser grande tem suas vantagens. Até hoje nenhum trombadinha de rua se meteu comigo e eu alcanço os produtos da última prateleira do supermercado. Mas imprenso meu joelho no banco de trás do carro, não acho roupa e sapato em qualquer lugar, e me irrito por não conseguir passar despercebida. Qualquer referência – mesmo que na intenção de elogio - a qualquer parte ‘superlativa’ de mim pode facilmente me magoar, por ser verdade e não-modificável. E eu me sinto mal por ser tão boba e sensível.
Graças a Deus que não é todo dia em que me sinto assim. Às vezes, agradeço cada milímetro de mim. Eu duvido que minha alma funcionasse igual, dentro da carcaça de Larissa.
Publicado originalmente no Sítio de Maricota, em 29 de abril de 2006.
10 comentários:
duvido que Larissa fizesse um texto bom assim.
Oi, dona Márcia-Pinta! Que honra tê-la aqui, beijo bem grande!
vi um comentário seu no liperama e vim ver seu blog. adorei esse post. por pura identificação com a personagem e pela delícia do texto!!
Obrigada, Cynthia! Tu não lembras de mim, lá da UFPE? Beijo pra ti.
Mariana, vim aqui pra ver sua "cara" e me lembrar de vc, mas...num consegui ver uma foto que mostrasse como vc é. Quer dizer, vi umas vc pequenininha, vc fazendo careta...e li todos os posts além de amar! vi que temos coincidências...vc é do dia 27 de abril e eu do dia 26 por exemplo. Fizesse o que na Federal?
beijos
Cynthia, eu fiz jornalismo - de 1990 a 1994 - mas continuei frequentando o Cac depois disso.
Vc se não me engano fez rádio?
Onde vc viu esse dado do 27 de abril? Meu aniversário é no dia 25!
Touro, ascendente gêmeos, com lua em aquário. Eitcha!
Beijo.
O que posso dizer???Vc escreveu sobre mim. Quem lhe deu esse direito. Blincadeila. Me senti num espelho.
É engraçado saber que tem outras pessoas que achem que as vezes não se encaixam mas que no final das contas não saberiam viver de outra forma!
Ai, Débora. Pelo menos você tem os olhos azul-piscina de Larissa! Hehehehe.
Acho você muito linda e fiquei encantada de ver você tocar e dançar, lá no Baque. Um dia quero ser assim!
Apareça mais.
Beijão.
e eu seria a Isadora, alta, esguia, de mãos longas e gestos elegantes ;) Amei o texto!
bjks!
Que texto foda! Hiperlativo tb!! bj do primo fã 2010
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