Tem certas coisas pras quais não tem jeito, eu me sinto sempre em carne-viva. Tipo, ouvir um dia de meu primo muito amado que tinha vergonha de andar comigo, anos atrás, quando eu era ainda mais gorda do que sou (e sou gorda, ainda).
Não lembro o termo que usou pra se referir a mim, mas acho que foi “monstruosa”. Isso ele falou aliviado, elogiando o fato de eu ter perdido mais de 40kg de lá pra cá (é...). Mas me doeu tanto, porque era uma coisa insuspeitada. E eu parei pra analisar como ele não andava realmente comigo em público, como ele tinha efetivamente vergonha. Não deixei de gostar dele, claro. Mas achei ele tão bobo, fiquei tão decepcionada! Porque nenhum traço físico jamais me impediu de andar com ou gostar de alguém. Dias depois ele comentou de uma moça cheinha que ele conheceu, mas não teve coragem de apresentar aos amigos. “Ela é linda, é um tesão, mas como eu vou com ela na praia?”, preocupava-se. Pra mim, essa classe de angústia nunca teve lugar...
Lembrei dessa história quando vi um recado num post logo aí abaixo, onde um gringo metido a livre-pensador (?) que não sei de onde apareceu me ‘xingou’ de gorda. Eu sou gorda, sim. E vou muito além disso. Graças a Deus sou uma mulher complicada. Sou múltipla. Cheia de paranóias mas de liberdade, também.Mesmo quando tinha mais de 120kg, nunca deixei de sair, de ver gente, de dançar. Nunca deixei de paquerar e ser paquerada. Fui casada por sete anos com alguém cheio de ‘poréns’, mas que nunca deixou de gostar de mim e de me dizer bonita. Eu tenho um amigo que sempre me disse que eu era a ‘ídola’ dele, por causa disso. Não conseguia entender como era possível, ficava realmente impressionado de me ver seduzir as pessoas, mesmo sendo completamente fora dos padrões de beleza. Bobo, ele, também.
Por que as pessoas têm que ter rótulos? Por que o ‘bonito’ deve ser alto, branco, magro e louro de olhos azuis? Me chamem de piegas e doida, mas o brilho do olho e o calor do abraço sempre foram critérios mais confiáveis, pra mim.
Eu sou feito cachorro e criança pequena, que se aconchega ao bom, e não ao que a estética diz que é belo.
Bela é a anca da minha avó, que pariu seis filhos. Belo é o sorriso sem dentes de Luiza. Bela é a falta de jeito de Bibiu, quando vai dar de comer a ela. Belo é o colar que fiz pra minha mãe, quando eu tinha cinco anos. Belas são as cicatrizes que carrego no corpo e na alma, mas que fazem de mim um ser humano único. Que pode ser melhorado, que eu sou mulher e vaidosa, ora essa. Mas que é belo, de forma intransitiva. Porque vive, ama e se faz amar.