10.10.05

Cena da vida real


Saio hoje correndo do trabalho, tudo cinza, um frio e uma chuva de lascar. Páro no sinal da Rio Branco junto de um homem de seus 35, 40 anos: alto, sério, compenetrado, de terno e mala executiva na mão.
Na hora achei engraçado, porque o cara era negro e bem bonito (abafa!, não tava paquerando, só conferindo o material), mas tinha um cabelo cortado meio estranho, bem curtinho e com uns desenhos meio tribais atrás (o que me fez pensar numa pantera enjaulada ou que, melhor dizendo, ele ficaria muito melhor sem aquela roupa, mas deixa pra lá, isso é só assanhamento).
Olhei de rabo de olho e segui em frente. Três passos adiante emparelho com o moço, que está falando com alguém no celular. Ouço nitidamente: "Alguém já te disse que te ama hoje?" Olhei de novo pra ele, que não me parece mais sério nem compenetrado, só derretido. De repente, o dia ficou colorido e eu saí rindo sozinha. Tá, não foi pra mim que ele falou. Mas minha alma gostou de saber que neste mundo ainda tem gente que ama. E que liga pra dizer.
*Publicado originalmente no Sítio de Maricota, em 07 de julho de 2005

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