10.10.05

Em flor


Na praça de Casa Forte, pertinho de onde eu morava em Recife, existem quatro pés de uma árvore esquisita que eu nunca vi em outro lugar da cidade. Chama-se ‘abricó de macaco’ ou Couroupita guianensis, e dá uma flor vermelho-sangue bonita e com um cheiro peculiar, que eu acho bom (e umas frutas em forma de bola muito, muito fedorentas).

Tenho uma relação especial com aquelas árvores, porque elas viram minha mãe menina.
Quando ela era criança, brincava embaixo delas e usava o estame pra fazer de conta que era uma escovinha de barbear – uma vez, cortou o cabelo de todos os meninos da vizinhança. Quando vinha me visitar, mamãe parava o carro e ia apreciar as flores púrpura e rosa.

No dia em que mamãe morreu, na volta do cemitério, parei embaixo da árvore que ficava mais perto da casa onde ela morou quando pequena, e chorei abraçada ao tronco. Sinto como se ela fosse minha amiga, um ser perene, que viu minha mãe nascer e verá meus filhos crescerem, um dia. Quero enterrar o umbigo do filho que eu tiver na raiz daquela árvore, pra que ele de alguma forma dê continuidade a essa história.

Pois bem: quando cheguei aqui no Rio, tomei um susto. Sei que vão dizer que é coincidência, que talvez eu não tenha prestado atenção e que existem 'abricós de macaco' espalhados pelo Recife. Mas aquelas árvores, raras na minha cidade natal, aqui me surpreendem nos lugares mais variados: na esquina de casa, na ginástica, nas praças e ruas por onde passe. Cada vez que isso acontece, meu coração fica em flor: é mais um jeito que mamãe encontra de estar perto de mim.
*Postado originalmente no Sítio de Maricota, em abril de 2005

Um comentário:

JulianaKarla disse...

Pois bem, Mariana. Eu também não conhecia "abricó-de-macaco". Nunca a vi em Recife, nem mesmo na Praça de Casa Forte - onde passo com certa frequência. Fui conhecê-la no Rio. Em Botafogo, de frente para a enseada. Os frutos-bolas me chamaram atenção. Mas só descobri seu nome no Jardim Botânico.

Um abraço, Juliana