10.10.05

O caso da bolsa prateada (saudade de Nadja)


Fiquei muito triste com uma notícia que recebi de Recife: hoje será a missa de sétimo dia de Nadja, a encarregada de limpeza da Folha de Pernambuco. O susto que tomei de saber deve certamente ter sido menor que o de meus ex-colegas de redação, porque ela passou mal no trabalho, teve um ataque cardíaco, ainda conseguiu ser reanimada, mas não resistiu.

Tinha que morrer do coração: o dela era grande, junto com o riso, a bunda, o senso de humor. Lembro que quando cheguei na Folha ela ficou meio desconfiada pro meu lado, e um dia ficou meio puta porque fui fazer matéria com um tênis mal-assombrado que juntou lama na sola e sujou continuamente a redação - nós de Grande Recife sempre demos mais trabalho a ela...

Depois ficou minha amiga, e protagonizou cenas hilárias, como o São João de 2004, quando nos empanturramos juntas de bolo, e uma vez que apareceu um cocô gigante na privada do banheiro feminino e foi tanta propaganda, que até os homens se organizaram em excursão pra conferir o calibre do bicho (nossa!).

Por causa de Nadja, eu cometi um ato que talvez possa ser considerado reprovável, mas do qual hoje mais que nunca me alegro, e vou partilhar com vocês.

No Natal de 2003, nossa colega da coluna Social, Paula Imperiano, recebeu dezenas de mimos variados e resolveu distribuir parte com a redação - nós de Grande Recife vibramos, porque quem é de Economia recebe caderninho e celular de brinde, o povo de Programa ganha cd e dvd, mas nós, que fazemos matéria de cotidiano e de polícia, tínhamos que ficar satisfeitos de não ganhar nem tombo nem tiro.

Paula pegou então a listagem dos funcionários todos, que eram mais de cem, e botou dentro de uma caixa, e começou a tirar. Sorteou vinhos, agendas, sabonetes, cestas de chocolate... Tirou vários, depois cansou, pediu ajuda, eu me ofereci pra tirar. E eu fui sorteando, tentando não olhar, porque ela não dobrou os papeizinhos, que eram muitos e mínimos.

A uma certa altura, o prêmio era uma bolsa prateada, de sair à noite. Com o rabo do olho vi Nadja namorando a bolsa. Não deve ter sido coincidência meu olho bater no papelzinho escrito com o nome dela, entre dezenas de outros. A alegria dela foi muito maior que meu possível sentimento de culpa: ninguém ali queria ou merecia mais esse presente do que Nadja!

Depois ela me contou sobre o reveillón e como a bolsa fez sucesso. E eu guardei esse segredo até agora, que soube da partida dela. Agora ela não precisa mais da 'minha' bolsa: com certeza Nadja tem muitos atributos melhores pra frequentar as festas no Céu.


*Postado originalmente no Sítio de Maricota, em 24 de junho de 2005

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