10.10.05

A boneca da titia e a boneca que a titia deu!


Quando eu era bebê, tive uma boneca preta. Era a coisa mais difícil do mundo, no Brasil de trinta anos atrás, mas minha tia Rosa viajou para o exterior e trouxe essa bonequinha pra mim. Era uma das minhas preferidas!

Depois fui crescendo, e vivia triste porque não tinha 'filhas' que parecessem comigo: 90% das bonecas eram louras, de olhos azuis. Sempre achei isso uma sacanagem, especialmente com as meninas negras, que precisam de um 'espelho' na hora de brincar. Aí, aos poucos, a pressão da sociedade e a ascensão de uma classe média negra brasileira fizeram os fabricantes passar a fornecer mais opções ao mercado. Hoje em dia, não são muitas, mas existem!

Sempre enlouqueço quando vejo uma bonequinha preta, e não sei se isso é resquício da minha pré-infância. Os amigos já sabem o que vou escolher, quando vou dar uma boneca de presente... Minha afilhada Bia já ganhou mais de uma - para horror da mãe, minha vizinha e amiga de adolescência Adriana, que, apesar de negra, acha mais bonitas as bonecas de olhos azuis.

Se tiver de escolher entre uma boneca preta e uma loura, compro a preta. É uma opção consciente, no sentido de que quero que cada vez mais a indústria venda e fabrique bonecas de todas as cores - mas é também porque, lá no fundo, as negras são as que eu gostaria de comprar pra mim!
Quando eu era casada com Adriano (que era negro), eu pensei por uns tempos em ter filhos e, conscientemente ou não, acabei comprando várias bonecas, que por mais de cinco anos ficaram guardadas, lacradinhas em suas caixas. Todas negras. Todas muito, muito lindas. Essas bonecas ficaram todas pra Luiza, minha bonequinha linda, que apesar de ser tão loura e de olhos tão azuis, vai crescer respeitando e reconhecendo o valor dos diversos tipos de beleza que existem no mundo.
*Postado originalmente no Sítio de Maricota, em 12 de julho de 2005

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