Supermercado lotado, oito da noite da quinta-feira, eu na fila do caixa. Sinto uma mãozinha puxando meu braço, olho e vejo um menino lourinho e sorridente, em pé dentro do carrinho de compras atrás do meu. É a cara de meu irmão Gabriel, quando criança. Cabelo bem clarinho e olhos castanhos. "Tu qué um?", oferece ele, com um pacote de biscoito na mão. Agradeço, e ele continua a puxar papo. Fuxica todas as minhas compras: gosta de leite de soja sabor laranja, e no carrinho dele tem bolo de laranja também, quer ver?, e exibe a laranja impressa no rótulo. Vai levar 'akut pra casa (yakult), adooora 'akut. Abre o desodorante pra eu cheirar. Conta da vida toda, da escola. Se chama 'axandivié (Alexandre Vilela), é enorme mas tem só quatro anos, e como Gabriel quando menino, troca letra quando fala. Está indo à fonoaudióloga, ela mandou fazer exercícios, soprar e fazer bolha, 'assim' (mostra pra mim). Fala rápido e errado e ninguém entende muito o que ele diz, por isso é bom que converse tanto comigo, sinto no olhar da mãe, satisfeita. O papo é tão alto e tão fluido e tão feliz, que o resto do pessoal da fila começa a rir. Na hora de ir embora me dá um beijo e convida pra fazer compras, semana que vem.
Um comentário:
Tomara que eu seja paquerado assim pelas pirráias nas próximas compras
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